Coluna publicada na coluna Tecnologia, do jornal Diário de Santa Maria, dia 28.04.2020
Que época interessante para celebrar o dia mundial da educação, hein?!
Estamos vivendo um momento de transformação bem forte em todas as áreas e a educação não ficou de fora mesmo.
Mas antes de falar nisso, você sabe por que dizem que dia 28 de abril é o dia mundial da educação?
Na realidade, dia 28 de abril não é reconhecida oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma data oficial do dia mundial da educação (deve ser votado e aprovado em assembleia geral). Segundo a ONU, o dia 28 de abril é reconhecido pela instituição como dia mundial da saúde e segurança no trabalho. Segundo o site Escola da Inteligência, a data ficou conhecida porque no dia 28 de abril de 2000, em Dakar, no Senegal, foi realizado o Fórum Mundial de Educação. Nessa ocasião, reuniram-se mais de 180 países, onde 164 firmaram um compromisso mundial para ampliação da educação básica (inclusive o Brasil), assinando um documento conhecido como "Marco de ação de Dakar, educação para todos: cumprindo nossos compromissos coletivos".
Esse documento estabeleceu uma agenda para a educação, com seis metas que deveriam ser seguidas e cumpridas até 2015 pelas nações que o assinaram. E esses países deveriam apresentar relatório sobre os resultados.
Em resumo, a ONU lançou oficialmente, em 2015, um documento chamado "Relatório de Monumento Global - Educação para todos" que apresentou os resultados desses 15 anos e pontos que precisavam melhorar, onde, como ponto positivo, o número de crianças e adolescentes fora da escola diminuiu quase a metade desde 2000.
Em 2015, foi gerado um novo documento, atualizando as metas para 2030, durante o Fórum Mundial da Educação, na cidade de Seul, na Coréia do Sul. Esse novo documento, assinado por mais de 150 países (Inclusive o Brasil) concordaram em investir de 4% a 6% dos seus PIBs na educação. Atualmente, o Brasil investe cerca de 6% do PIB em educação (sendo superior à média entre os países), mas infelizmente ainda mantém níveis de escolaridade abaixo de muitos países que investem menos.
De qualquer forma, esse dia de hoje, 28 de abril, deve ser aproveitado a oportunidade de refletirmos e falarmos mais sobre a educação, seus desafios e novos caminhos.
Sala de aula do século XIX
E que desafios. Estamos no século XXI e usamos as bases de educação que foram criadas ainda no século XIX, ou seja, há quase 200 anos. E o interessante é que esse modelo de ensino atual é praticamente o mesmo que foi criado na época da Revolução Industrial, quando as indústrias precisavam de profissionais mais capacitados para operar as máquinas. A solução surgiu no ensino de massa, para acelerar isso.
Segundo Maurício Benvenutti, no seu livro Audaz, a solução foi criar um sistema educacional que simulava esse novo mundo, seguindo todo o processo burocrático das fábricas, como lugares fixos, divisão de disciplinas e uso de sinos para anunciar a troca os turnos. O foco era "produzir" mais e mais operários para as fábricas. E deu certo na época.
Muitos países deixaram de ser meras comunidades agrícolas para se tornarem verdadeiras potências industriais.
Ok, mas e os dias de hoje?
Sim, caro leitor, aí estão postos os desafios. Nesse século atual, você aprende algo, desenvolve, usa esse conhecimento e pouco tempo depois, esse conhecimento já não se aplica mais, fazendo com que todo aquele esforço e dedicação, boa parte já não usa mais.
E aí está o grande desafio. Como contornar isso?
Segundo Alvin Toffler, enquanto ainda vivo, nos deixou uma das melhores citações que definem esse desafio: "Os analfabetos desde século não são aqueles que não sabem ler ou escrever. Mas os incapazes de aprender, desaprender e aprender de novo".
E aí veio o Corona Vírus e bagunçou tudo de vez!
Enquanto a maioria das instituições ainda segue presa no esquema da sala de aula, mesas alinhadas, horário de início e fim, professor dita a matéria e o aluno que responder mais rápido e como foi decorado tem a sua nota elevada, a famosa transformação digital foi chegando aos poucos, pouco reconhecida para muitos e que agora é praticamente o único canal de ensino nos dias de hoje (pelo menos durante esse distanciamento social).
O Diário de Santa Maria, em uma edição especial do domingo passado, denominado "O desafio de apreender a ensinar sem sair de casa durante a pandemia", onde apresentou casos de pais e mães ajudando os filhos para manterem os estudos em dia.
Apesar das instituições terem os programas de Ensino a Distância (EaD), as atividades ainda ficam bastante vinculadas ao presencial.
Mas e falando de digital, quantas vezes você entrou em qualquer canal do Youtube para aprender algo novo ou para reforçar o que você aprendeu na escola?
Então, eu sei que foram várias vezes. Esse é o novo normal. O ensino digital.
E isso é a revolução! Ou melhor, a evolução da educação!
E a tecnologia, não só como papel de fornecer a infraestrutura para isso tudo acontecer, com as conexões de internet e computadores, mas com muito mais que isso, com a inteligência artificial, vão criando caminhos alternativos para a educação.
Um exemplo é a escola Saint Paul, de São Paulo. Eles criaram uma plataforma chamada LIT que tem vários cursos online, bem inovadores. Até aqui ok, várias instituições também têm isso, mas eles foram além. Usando a inteligência artificial, você consegue "calibrar" o modo de aprendizado que mais te ajuda a aprender. Legal, né?
Mas os exemplos mais audaciosos vêm da China.
Sala de aula da Squirrel AI, com tutores e laptops
Uma startup, chamada Squirrel, vem surpreendendo o mundo com o seu método de ensino, empregando a inteligência artificial. Com um sistema de tutorias, eles já têm mais de 2000 centros de ensino em 200 cidades chinesas e já se preparam para exportar essa tecnologia. Seu método consiste no ensino via computadores, onde o aluno tem as disciplinas subdivididas em vários blocos e são realizados muitos testes. Com isso, a inteligência do sistema vai aprendendo como aquele aluno aprende e vai sugerindo formas diferentes de ensino para acelerar o aprendizado.
Como o sistema ainda segue em testes e evolução, mesmo assim são milhares de alunos "calibrando" o sistema diariamente, criando uma massa de dados e informação bem precisa. Tudo o que um bom sistema de inteligência artificial precisa: dados.
Segundo uma matéria do MIT Technology Review, o desejo do fundador da Squirrel é que esse sistema se torne o principal sistema de ensino da China. Segundo o fundador, Derek Li, seus filhos gêmeos, de oito anos, que estão na segunda série, usam o sistema da Squirrel ao máximo, onde já estão aprendendo física da oitava série.
Apesar dessa eficiência toda reportada pela Squirrel, há quem diga que os alunos precisam entender o seu próprio aprendizado. Essa é a professora da Faculdade de Artes e Design da Universidade de Ontário, no Canadá, pioneira no aprendizado personalizado. Ela divide o aprendizado em três níveis: ritmo (se personalizado por aluno, demandará tempo diferente para aprender), caminho (usando ou texto ou vídeos, o que motiva aprender, por exemplo, física para quem quer ser da artilharia do exército ou química para quem ama farmácia) e destino (se desejam aprender em uma escola profissional ou uma universidade).
Nessa linha, surge a Alo7 que ensina inglês na China, onde usa a plataforma com inteligência artificial para ensinar vocabulário e até mesmo pronúncia, que são analisados por meio de algoritmos de reconhecimento de fala. Mas qualquer coisa que exija criatividade, é aprendida em sala de aula, como escrever e conversar.
Na visão do fundador da Alo7, Pan Pengkai, a aplicação da inteligência artificial na educação é para se livrar completamente de testes padronizados, onde essa inteligência pode criar ambientes flexíveis que favoreçam tanto alunos sensíveis e criativos quanto alunos precisos e analíticos.
Uma frase, segundo Pan, que resume tudo isso é "A educação não será mais sobre competição".
De maneira geral, estamos no meio dessa transição, buscando atualizar formas antigas e desgastadas de ensino para os tempos modernos. E tudo está sendo testado.
Mesmo com professores tentando inovar em sala de aula, ou até mesmo levando os alunos para fora da sala de aula e tentando ensinar, com formas diferentes do tradicional, a resistência também aparece por parte dos alunos. É cômodo receber aquele conteúdo pronto e "mastigado", ficar ali cumprindo horário de aula e depois estudar no dia anterior da prova e testar. Se conseguiu nota suficiente, passa. Se não conseguiu a nota, refaz.
O fato é que se o ensino do século XIX foi criado e moldado nos padrões do modo de trabalho industrial da época, então, em um mundo agora imerso em tecnologia e amplamente conectado, onde as formas de trabalho são diversas e novas a cada dia, o desafio está exatamente aí, em recriar a educação para preparar as pessoas para o futuro, ou melhor, para criar esse futuro.
Um grande abraço e sucesso.
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